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Precisamos falar sobre Cabelos
Giselle Moraes Moreira

Última alteração: 2018-08-26

Resumo


Introdução/Justificativa/Base Teórica: Cabelo “bom”, “ruim”, “pixaim”, “bombril”, “desgrenhado”, lisos, enrolados, pessoas “descabeladas”, “black power”...Impossível pronunciar essas palavras sem fazer associações das mais diversas. Em todas as épocas, as sociedades elaboraram complexos códigos de penteados com o propósito de comunicar papéis, identidades culturais, pertencimento a determinado sexo, etnia, gênero, grupo, idade, religião e/ou posição social. Os cabelos, portanto, fazem história: simbolizam épocas, lugares, sociedades, adequação, contestação! A condição dos cabelos pode ser também reveladora da trajetória, da condição de existência e do momento que um indivíduo vivencia; raspar os cabelos, por exemplo, é comum nos ritos de passagem: no ingresso numa universidade, na prisão, instituição militar ou religiosa (QUEIROZ e OTTA, 2000, 27,28). A longa trajetória do cabelo atesta também uma enorme intolerância social aos despenteados; eles foram associados aos loucos, bruxos, beatos, moribundos condenados à prisão, subterrâneos, contestadores (ARAÚJO, 2012, 12). Quanta rebeldia ainda guarda um cabelo desarrumado!
Os cabelos simbolizam incontestavelmente épocas, condições sociais e transgressões. Eles têm o seu significado social e emblemático para cada época e sociedade. Além de fonte privilegiada de simbolizações, é parte do corpo que, invariavelmente, é submetida a inúmeras modificações durante a vida das pessoas. Há muito registro no sentido de que o ser humano se valeu desde cedo do poder de transformação dos cabelos buscando se diferenciar dos animais peludos à sua volta e construir uma identidade humana (ARAÚJO, 2012,13). Isso é especialmente óbvio na medida em que os cabelos por si só mudam e podem ser raspados, tingidos, aumentados, presos, enrolados, alisados, enfim, constantemente manipulados através das mãos, de técnicas e serviços. Através da mudança, acredita-se, muda-se mais que aparência, muda o lugar no imaginário e no estatuto social. Mas a história dos cabelos também registra movimentos de contestações históricas. Em meio a uma flagrante valorização da estética branca, o Movimento Negro nos Estados Unidos consolidou o black power nos anos 60. Os adeptos procuravam afirmar uma identidade negra nas roupas, postura e principalmente nos cabelos, naturalmente cacheados, crespos e bem altos. Hoje, no país, a população negra assume gradativamente sua cabeleira natural com vistas a dar visibilidade à sua estética e combater estereótipos estabelecidos historicamente. Portanto, ao problematizar as representações dos cabelos, fazemos também uma imersão nas trajetórias que envolvem (in)visibilidades e marginalização da estética negra, mas refletimos também sobre as possibilidades que os cabelos têm de estabelecer uma identidade, empoderamento e uma resistência. De fato, faz-se necessária a reflexão de como a Escola pode incluir e promover práticas educativas sobre a diversidade sociocultural (gênero, raça, etnia, religião, orientação sexual, idosos, pessoas com deficiência) com vistas a desnaturalizar relações de desigualdade, bem como horizontalizar a discussão, muitas vezes trabalhada de maneira fragmentada.
Objetivo: O presente trabalho objetiva apresentar o resultado das discussões sobre o corpo e suas representações, especificamente sobre os cabelos, na disciplina de Sociologia nos 2º anos do Ensino Médio no Colégio de Aplicação João XXIII da UFJF.
Metodologia: O conteúdo e discussões são apresentados em aulas expositivas e teóricas, discussões de textos, debates e depoimentos.
Análise e Discussão: As discussões sobre os cabelos e suas representações permitem a compreensão de fatores discriminatórios – etnia, gênero, condição social, faixa etária - as representações associadas a eles e como se dão as construções dessas representações.
Conclusões: As discussões motivam alunas e alunos a exporem suas experiências pessoais bem como os impactos que as diversas representações sobre os cabelos têm nas suas trajetórias pessoais. Mais que “jeitos de usar os cabelos”, eles fazem parte das histórias de vida dos discentes e os expõem a diversas situações de aceitação, preconceitos e (in)visibilidades.
Referências:
ARAUJO, Leusa. Livro do Cabelo. Editora Leya, 2012
QUEIROZ, Renato da Silva, OTTA, Ema. A beleza em foco: condicionantes culturais e psicobiológicos na definição de estética corporal. In: QUEIROZ, Renato da Silva (org.) O corpo do brasileiro, noções de estética e beleza. São Paulo, Ed SENAC, 2000.

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