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ESTEREOTIPIA CORPORAL A PARTIR DOS DESENHOS ANIMADOS
CARLA BORGES DE ANDRADE

Última alteração: 2018-08-29

Resumo


Boa parte da atual geração adulta viveu sua infância durante as décadas de 1980 e 1990, período em que despontou a grande veiculação de desenhos animados na televisão brasileira. Proveniente de pesquisa concluída (ANDRADE, 2012), este estudo tem por objetivo discutir cinco desenhos animados da época, apontando suas repercussões sobre a formação da imagem corporal das crianças de então e que se refletem hoje em sua fase adulta. O desenho animado auxilia a criança no desenvolvimento intelectual e emocional, exercendo influência na constituição da sua imagem corporal (BOYNARD, 2002) e incitando à valorização de certos estereótipos corpóreos que ignoram as diferenças internas de cada um. Foram analisados os desenhos: Super-Amigos, A Caverna do Dragão, He-Man, She-Ra e Thundercats por meio de análise fílmica e pesquisa bibliográfica. No desenho dos Super-Amigos aparecem várias personagens que mantêm características em comum: são sempre magras, altas, fortes, musculosas, inteligentes e brancas. Evidenciando uma ideologia machista, apenas uma mulher apresentava poderes especiais: a Mulher Maravilha. Já em “A Caverna do Dragão”, há que se ressaltar a presença da Diana, uma personagem feminina guerreira negra (a única entre os desenhos analisados), com seu corpo esguio, magro, com peitos e nádegas avantajados, barriga enxuta e cinturinha fina. Este desenho também incluía uma personagem infantil, um menino de mais ou menos dez anos de idade, guerreiro, forte, musculoso, loiro, que muito vai se assemelhar ao padrão físico do He-Man, em cujo desenho as personagens masculinas (incluindo os vilões) possuem musculatura bem definida (FUSARI, 1985), pele branca, cabelos claros, lisos e longos, e são altos. As figuras femininas mantêm medidas consideradas perfeitas, padrão corporal da She-Ra, irmã do He-Man: alta, forte, loira, com enormes peitos, coxas e nádegas, longos cabelos e brilhantes olhos azuis. Nesse desenho, além do estereótipo do “corpo belo e perfeito”, reaparece a questão do machismo: embora tão poderosa quanto o irmão, a She-Ra só recebe destaque quando age sem ele, sozinha. Já os Thundercats, figuras felinas com composição corporal humana, também corroboraram a concepção do padrão de beleza divulgado midiaticamente: corpos magros, torneados e musculosos. Aqui destaca-se o Snarf, que é constantemente ironizado e ridicularizado por conta de seu corpo gordinho: muitas vezes suas opiniões são desconsideradas, como se a inteligência estivesse atrelada ao condicionamento físico. Não é de se surpreender, portanto, que aquela geração infantil dos anos 80-90, espectadora assídua desses desenhos animados, mantenha hoje hábitos que as direcionem à imitação das personagens que tanto assistiam, principalmente no que se refere a sua imagem corporal, seja frequentando espaços de beleza e clínicas de estética, seja realizando cirurgias plásticas sem prescrição médica. Os enxertos de silicone também são comuns e cada vez mais precoces, resultando na mudança da imagem corporal dos indivíduos que acreditam se assemelharem aos seus heróis da infância, hoje personificados nos astros e estrelas do cinema e da televisão (MEQUITA; SOARES, 2008). Portanto, não se pode negar que os desenhos animados implicaram fortemente a formação da imagem corporal das crianças que os assistiam, exaltando certos estereótipos em detrimento da diversidade.

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