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MEMÓRIA, ANCESTRALIDADE E EDUCAÇÃO: CAMINHOS POSSÍVEIS PARA APLICABILIDADE DA LEI 10.639/03.
Quecia Silva Damascena

Última alteração: 2018-08-20

Resumo


Cotidianamente a sociedade silencia os corpos negros e suas memórias, através de um sistema simbólico colonizado, culturalmente e antropologicamente estigmatizado. Descolonizar memórias e identidades que se configuram e se reelaboram em contextos historicamente eurocêntricos tem sido um caminho de contradições e como elucida Le Breton (2006, p.10):
De fato o corpo quando encarna o homem é a marca do individuo, a fronteira, o limite que, de alguma forma, o distingue dos outros. Na medida em que se ampliam os laços sociais e a teia simbólica, provedora de significações e valores, o corpo é o traço mais visível do ator.
Partindo desse pressuposto, é possível compreender que memória, ancestralidade e educação estão imbricadas nas encruzilhadas da nossa construção social e forjam identidades, pois moldar-se, requer travessias pelo caminho da ancestralidade, emergindo das raízes que ao longo da vida são fortalecidas e reelaboradas na relação do sujeito com sua história e memória corporal. Por esses veios, esta pesquisa se configura como um ato de transgressão e confronto na busca de um conector, para traduzir a diversidade e potencialidade existente nos saberes negados como produtivos e credíveis, pois como nos diz Munanga (2005, p.18):
Uma vez cumprida esta condição primordial, que no fundo exige uma transformação radical de nossa estrutura mental herdada do mito de democracia racial, mito segundo o qual no Brasil não existe preconceito étnico-racial e, conseqüentemente, não existem barreiras sociais baseadas na existência da nossa diversidade étnica e racial, podemos então enfrentar o segundo desafio de como inventar as estratégias educativas e pedagógicas de combate ao racismo.
Ressalto a importância da memória como teia de construção no processo de resgate, aprendizagem e ressignificação das identidades no tempo presente, pois muitas ainda estão demarcadas por um processo de colonização e estigmatização de sua ascendência, para isto essa pesquisa apóia-se também na concepção de Pollak (1992, p.5);
Se podemos dizer que, em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata de memória herdada, podemos também dizer que há uma ligação fenomenologicamente estreita entre a memória e o sentimento de identidade.
As identidades se constroem nas tensões, contradições e continuidades da vida, onde utilizar-se de um espaço museológico para dialogar memórias e ancestralidade nas teias que perpassam as relações sociais é um dos caminhos. Destarte, se insere como objetivo nessa pesquisa, compreender como a visitação das escolas ao acervo do Mafro- Museu Afro Brasileiro -UFBA pode contribuir para a construção positiva da identidade negra em estudantes visitantes, bem como em objetivos específicos, analisar a partir das narrativas e travessias pelas exposições, como este espaço fortalece a aplicabilidade da lei 10.369/03 e identificar quais as rupturas provocadas na pratica pedagógica dos docentes acompanhantes.
A partir do referencial epistemológico decolonial, compreende-se segundo Mignolo (2008, p.290) “A opção descolonial é epistêmica, ou seja, ela se desvincula dos fundamentos genuínos dos conceitos ocidentais e da acumulação de conhecimento”.
Partindo do pressuposto que o as memórias se constituem de múltiplos dispositivos, promover diálogos entre as insurgências e travessias experiênciadas se configura como caminho metodológico nesta pesquisa. Onde será desempenhada uma pesquisa etnográfica, com realização de entrevistas e observação, bem como analise de documentos. Por esses veios, ressalto que dialogar com outras formas de conhecimento que reflitam as diversas formas de vida, configura-se como possibilidade na ruptura ao universalismo dos saberes, criando fronteiras e pontes na construção de conhecimento afro-diaspóricos para o trato das relações étnico-sociais e raciais.




REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
POLLAK. Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.5, n.10, 1992, p 200-212.
LE BRETON, David. A Sociologia do Corpo. 2ed. Tradução de Sonia M.S. Fuhmann-Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
MIGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Tradução de Ângela Lopes Norte. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e identidade, no 34, p. 287-324, 2008
MUNANGA. Kabenguele. Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. 204p.: il.

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