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A fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática caracterizada por dor musculoesquelética crônica e difusa. Diante da crise ética e epistemológica presente na relação saúde-sociedade, estudos ressaltam a importância das práticas corporais (PC) para pessoas com FM. Nas PC, o movimento humano é compreendido nas relações de cuidado em saúde, onde os vínculos sociais construídos atuam no enfretamento da FM. A teoria da dádiva, constituída pelas ações de dar, receber e retribuir bens, promove solidariedade e coesão social, incluindo reconhecimento e hospitalidade nos processos de adoecimento que carecem de legitimidade. O objetivo do estudo foi compreender as PC como um sistema de troca de dádivas que estabelece reconhecimento e legitimidade ao processo saúde-doença da FM.O presente estudo foi realizado por meio de entrevista e observação em campo com pacientes diagnosticadas com FM e questionário semiestruturado com professores de Educação Física (EF) que participaram do Projeto “Tratamento Interdisciplinar para Pacientes com Fibromialgia (TIF)”. A amostra foi composta por 8 pacientes que ingressaram nas atividades do TIF em 2019 e 3 professores de EF envolvidos com o Projeto. As práticas corporais envolveram duas sessões semanais de uma hora cada, com exercício aeróbicos, contra resistidos e de flexibilidade, a partir de uma perspectiva lúdica e socializadora. A metodologia de análise dos dados escolhida foi a Análise do Conteúdo. De acordo com os discursos analisados, o cuidado em saúde produzido nas PC é uma dádiva simbólica que transita nas ações de dar, receber e retribuir. A constituição da dádiva ocorreu mediante um deslocamento dos professores de EF em direção às demandas e necessidades das pacientes, proporcionando legitimidade e reconhecimento ao quadro álgico e sintomático da FM. As pacientes retribuíram os dons de cuidado participando ativamente das PC e na divulgação do Projeto com outras pessoas com FM, dando continuidade ao ciclo da dádiva. O cuidado enquanto dádiva manifestou-se nas ações simbólicas desenvolvidas pelo encontro entre professores de EF e pacientes com FM nas danças, circuitos, caminhadas e alongamentos. A metáfora do cuidado enquanto dádiva construiu novas estratégias corporais e coletivas no enfrentamento cotidiano da FM, com autonomia, empoderamento e protagonismo. Novos usos sociais do corpo nas situações recreativas, laborais e domiciliares foram contatados. As PC foram construídas no encontro entre as pacientes e os professores de EF, a partir do ciclo da tripla obrigação de dar, receber e retribuir dádivas de cuidado em saúde. A doação do cuidado em saúde, nos moldes metafóricos, proporcionou legitimidade, reconhecimento, protagonismo e autonomia às pacientes no processo saúde-doença.